O plenário do TCE prestou uma homenagem nesta quarta-feira (3) ao conselheiro João Henrique Carneiro Campos, que era o corregedor da instituição e faleceu em Gravatá no dia 22 do mês passado em decorrência de um infarto. Além do presidente Marcos Loreto e da procuradora geral do Ministério Público de Contas, Germana Laureano, todos os conselheiros fizeram uso da palavra para destacar as qualidades do colega falecido, dentre elas o cavalheirismo, o amor pelas artes e o respeito ao contraditório. O advogado Márcio Alves, que era seu amigo há mais de duas décadas, falou em nome dos colegas.
O primeiro a falar foi Marcos Loreto, que o definiu como “colega exemplar” e bem relacionado com os outros poderes, assim como com a classe dos advogados e representantes da iniciativa privada. “Foi, sem sombra de dúvida, um dos nomes mais brilhantes que já passaram por este plenário, enriquecendo o debate pelo seu conteúdo” e a “forma corajosa e aguerrida com que defendia suas ideias, embora sempre respeitosa”.
“Foi um advogado brilhante e era brilhante também como amigo, chefe de família, pai, marido e irmão. E é como a perda de um irmão que sinto sua partida (...). Ele não era de falar sobre virtudes, mas de dar exemplos, dia após dia, com uma leveza peculiar. Um amante da profissão, da vida, da arte, do bom humor, das cavalgadas, das confraternizações e da política, no seu sentido mais construtivo e humano”, disse o presidente.
O conselheiro Carlos Porto falou em seguida, exaltando “os gestos, o comportamento e a maneira de agir” do colega falecido, com quem só teve oportunidade de conviver após se conhecerem no TCE. “Era o tipo de pessoa talhada para participar de colegiados”, disse o presidente da Segunda Câmara, destacando a “lhaneza” do colega “e o grande respeito que ele tinha pela opinião dos outros". Porto encerrou suas palavras parafraseando o poeta Cazuza: “As coisas acontecem sem explicação”. Mas no caso de João Carneiro Campos, frisou, “aconteceram” sem explicação.
HOMEM DE DIÁLOGO - O conselheiro Dirceu Rodolfo, que falou em seguida, definiu João Carneiro Campos como um “abnegado resolvedor de conflitos”, afeito ao diálogo e extremamente dedicado à família. E lembrou a homenagem que lhe foi prestada pela filha, Luíza, na missa de sétimo dia, no Santuário Nossa Senhora de Fátima, fato que emocionou todos os presentes. “Ele foi logo ali e desapareceu sem avisar”, declarou.
O conselheiro e diretor da Escola de Contas, Ranilson Ramos, disse ter aprendido com João Campos a não ter medo do debate nem do contraditório quando fosse julgar processos no TCE. “Vocês todos são meus professores e de cada um eu tiro sempre um ensinamento para subsidiar os meus votos. João me ensinou a não fugir das discussões e a colocar minha tese para o debate. É o que tenho feito aqui por sugestão dele. Por isso, a sua ausência deste plenário vai se transformar numa saudade boa. Meu amigo e meu professor, João, um grande abraço”, afirmou.
A conselheira Teresa Duere, após relatar que ficou chocada ao receber a notícia da morte do colega, disse que o desaparecimento dele é a maior prova “de que o nosso tempo não é o tempo de Deus”. “Para mim, ele deixou uma lição muito importante, que era o respeito à divergência com o cuidado para que aquilo não se transformasse numa animosidade no campo pessoal”. E após exaltar as virtudes do colega, que era “estudioso e querido por muita gente”, encerrou sua homenagem com uma frase de uma canção do poeta Sérgio Bittencourt em homenagem ao pai, Jacó do Bandolim: “Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim”. Teresa e João sentavam juntos no plenário, à esquerda da cadeira do presidente.
Substituto provisório de João Carneiro Campos no Conselho, o conselheiro substituto Luiz Arcoverde Filho também fez questão de reverenciar a memória do colega dizendo que em sua curta passagem pelo TCE ele “enriqueceu o bom debate”. E aproveitou a ocasião para prestar uma homenagem aos servidores do gabinete de João, quase todos presentes à sessão. Antes, a procuradora geral do MPCO, Germana Laureano, também reverenciou a memória do conselheiro falecido, lembrando o tempo em que se conheceram na Faculdade de Direito do Recife, e anotando que João Campos levou com ele um pouco daqueles que estão no colegiado, onde permanecerá vivo, dentro de cada um.
DIALÉTICA CONSTRUTIVA - Último dos conselheiros a falar, Valdecir Pascoal afirmou que João Campos fazia no TCE a “dialética construtiva”, relacionando-se diplomaticamente com todos os colegas e devotando respeito pelas opiniões de cada um, independente de coincidirem ou não com as opiniões dele. E após enfatizar a admiração que ele tinha pelo pai, o jornalista e escritor Renato Carneiro Campos, lembrou os dois livros escritos por ele, hoje fora de catálogo nas livrarias do Recife: “Sempre aos domingos” e “Tempo amarelo”.
Em nome dos colegas advogados, Márcio Alves encerrou a homenagem com essas palavras: “Não sei se as almas que partem ouvem os lamentos dos que ficam. A vida após a morte continua sendo um mistério. Mas, se você é capaz de ouvir, João, saiba que sua morte está sendo muito lamentada”.
Gerêrncia de Jornalismo (GEJO), 03/07/2019